quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Entrevista Frejat para Revista Free São Paulo 09/ 2012


  Foto por Fabio Silveira - Festival do Chocolate 2012

“O Barão já fez o que tinha de fazer”


Mais do que o reconhecimento do trabalho solo, o lançamento do CD e DVD “Frejat - Ao Vivo Rock in Rio” traz uma satisfação pessoal ao músico.
No palco do festival, na apresentação do ano passado, o filho Rafael, de16 anos, tocou guitarra ao seu lado nas músicas “Malandragem” e “Amor pra Recomeçar”. Tudo assistido, na plateia, pela filha Júlia, de 12 anos, e por sua mulher, a empresária Alice Pellegatti. Com o Barão Vermelho, Frejat deve sair em turnê comemorando os 30 anos do primeiro disco, que tem o nome do grupo - e que será relançado após ser remasterizado para acertar o som que não ficou a contento na época. De quebra, o CD poderá ter a faixa extra de Down em Mim cantada por Cazuza em espanhol. Mas depois dos shows, o roqueiro garante que a banda não volta. Aos 50 anos, o carioca Roberto Frejat conversou com a reportagem.

Por: Igor Giannasi
redacao@freesp.com.br

- Como foi a sensação de fazer O show no Rock in Rio, EM carreira solo, tendo já participado duas vezes com o Barão?

FREJAT- Tem um lado diferente, porque esse show consolida um reconhecimento do meu trabalho individual depois de dez anos.
Reconhecimento no sentido de estar no palco onde estava a primeira linha do pop rock brasileiro, fazendo um show que o público reage de uma maneira presente. E o fato de eu ter tocado também com meu filho no palco me dá um prazer muito grande. Minha mulher e minha filha estavam ali na plateia. Então, tem um momento pessoal ali muito bacana.

- Qual foi sua influência nesse caminho de seu filho pela música?

F- Cara, acho que nem é tanto uma questão de influência. Até porque minha mulher também trabalha muito com música. Ele gosta muito de música por ele mesmo. E tem uma naturalidade para a música que eu considero muito superior à minha.

- As letras do Barão abordam sexo e drogas. Você conversa com seus filhos sobre esses assuntos?

F- Sim, lógico. Acho que tem de ter uma relação de sinceridade e  colocar as coisas às claras. Isso está no dia a dia das pessoas e da sociedade. Então, é importante que eles saibam exatamente causas, efeitos e como as coisas se desenrolam para que possam se colocar frente a essas situações. Desde pequenos, sempre coloquei que qualquer dúvida
estaria aberto para falar. E eles sabem que eu vim do rock’n’roll, então, não adianta forjar que sou um santinho. Sabem que eu tenho uma porção de amigo maluco. Alguns que deram muito certo, outros que deram muito errado. E isso faz parte da vida. Da mesma maneira com a questão da sexualidade. Tenho vários amigos gays e meus filhos convivem com eles
com a maior tranquilidade, sem o menor tipo de preconceito.

- Qual é a sua posição em relação à descriminalização das drogas?

F- Sou a favor da descriminalização das drogas. Acho que droga é um problema de saúde, não policial. O custo que a droga traz para a sociedade tem de ser, vamos dizer assim, tratado, conduzido ou reduzido por meio de políticas de apoio a dependentes e que isso tem de ser feito justamente com o dinheiro que a droga recolheria com o imposto da venda. Não só sou a favor da descriminalização, como a favor da oficialização da venda de drogas. Como um remédio de tarja preta é vendido na farmácia, acho que se pode vender cocaína e maconha lá também.

- Sobre a relação com o Cazuza, ele era o “loucão” e você tivesse uma postura mais centrada. Era isso?

F- Com certeza que ele era muito mais louco do que eu. Não tem nem discussão. Mas o fato de eu não ser uma pessoa que não fazia questão de ir até o limite das coisas, não quer dizer que eu não entendia esse tipo de vivência ou não a aceitava. As pessoas gostam sempre de contrapor uma pessoa que é um pouco mais ousada nas atitudes com outra que pode ser mais contida, de imaginar que essa pessoa que é mais contida não concorda com aquela outra. Eu não tinha nenhum problema com isso. Talvez, ele tivesse mais dificuldade com a minha contenção do que eu tinha com o exagero dele. Mas isso fazia parte da dinâmica da nossa amizade e da relação como parceiro. É muito diferente do confronto.

- Sente falta de ter um parceiro como o Cazuza nas composições?

F- É difícil isso, porque, na verdade, o que acontece é que nosso encontro foi muito feliz. É lógico que se estivéssemos ainda hoje tendo a oportunidade de compor, provavelmente, estaríamos fazendo coisas ainda muito bonitas. Mas não gosto muito de ficar exercitando uma hipótese impossível, porque aí só alimenta sofrimento e angústia. Considero que algumas músicas que fizemos foram algumas das melhores que já fiz com um parceiro.

- Quando o Barão volta do recesso?

F- Temos uma turnê planejada de outubro a março de 2013. A gente deve fazer alguns
shows para comemorar os 30 anos do primeiro disco e, depois disso, cada um segue seu caminho.

- Volta definitiva não deve ter?

F- Não acontecerá uma volta definitiva, pelo menos para mim. O Barão já fez o que tinha de fazer. Hoje, no momento em que a gente retorna para estar no palco junto, é muito mais a celebração de uma obra construída do que propriamente a possibilidade de se criar mais um passo artístico e autoral.

- Seu pai é filho de árabes católicos e sua mãe, de judeus poloneses. Como foi a criação com essas duas culturas?

F- Em primeiro lugar, minha formação religiosa é zero. Porque meu pai é ateu, sempre foi um político de esquerda. Aliás, meus pais têm uma cabeça bem progressista. Dentro da minha casa, a questão da religião não existia. Eu frequentava o Natal na casa da minha avó paterna. Naquele momento, tinha uma celebração católica. Ao mesmo tempo, no Yom Kipur (Dia do Perdão), no ano novo judaico e na Páscoa judaica, tinha jantares na casa dos meus avós maternos. Sempre tive essa convivência com o lado religioso muito mais pelo lado da festa, do encontro com a família, do que propriamente da prática religiosa.

- Mas você nunca sentiu uma necessidade de busca espiritual?

F- Sim, com a minha vivência pessoal, em algum momento tive algumas experiências de fé. Durante muito tempo, eu achava que era ateu. Hoje, acredito em Deus e só. É inquestionável a presença de uma energia muito forte que se manifesta das mais diversas maneiras. Agora, o que é Deus, é difícil explicar. Se desse para explicar, Ele já ficaria pequenininho. E Ele é tão grande.

- Na sua juventude, você imaginava ou projetava como você seria aos 50 anos?

F- Não, não (risos). Cara, eu me lembro que, quando eu pensava que em 2000 teria 38 anos, eu já achava uma distância inacreditável. Era muito longe, não me conseguia me ver com 38 anos. Estou com 50 (risos). Às vezes, olho para os meus filhos e fico pensando se eles conseguem pensar isso em relação a eles. Imagino que têm a mesma dificuldade que eu
tinha.

- Então, você não sente essa coisa de peso da idade?

F- Não. É lógico que tem o famoso DNA: data de nascimento avançada. Aquela hora que você olha e fala: ‘Porra, cadê meus óculos que não estou vendo porra nenhuma aqui”. Ou o dia em que você faz um movimento mais forte e dá uma trincada nas costas. Mas fora isso não tem nada mais. Graças a Deus, estou com saúde. Me cuido, tenho uma alimentação boa já há muitos anos, não como carne vermelha desde os 18 anos, não tomo refrigerante. Apesar de ter tido meus excessos e não ser nenhum santinho, nunca fui uma pessoa completamente displicente com a minha saúde.

Fonte : Facebook Oficial Frejat

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