terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Mendigo

As pessoas passam depressa.
Passam com seus celulares, gritando como loucas ou com fones de ouvido talvez para não ouvir a loucura aqui do lado de fora.
Pessoas que passam cheias de sacolas com roupas novas, presentes, alimentos do dia ou o jantar que será servido em alguma mesa , algum lugar mais quente e confortável do que aqui.
Pessoas que passam com seus amigos, outras sozinhas e pensativas . Algumas até demoram quase a eternidade para atravessar a rua e outras nem param para conversar.
Elas passam e me sinto invisível.
Não tenho casa, não tenho família e muitos menos amigos e algumas poucas até olham pra mim mas a maioria não se importa se estou dormindo ou morta. Fingem que não vê.
Não preciso que tenham pena de mim porque na verdade minha vida não é tão ruim assim.
Meu carrinho de supermercado já enferrujado tem tudo o que eu preciso: Meu cobertor , algumas fotos , o pouco que restou do passado e quase nada do que tenho no presente.
Vejo pessoas passando por mim e são as mesmas de todos os dias. Com as mesmas preocupações, as mesmas sacolas, os mesmos sonhos e a mesma rotina. A rotina que faz com que elas percam o sol se pondo , a rotina que as tornam prisioneiras dentro de prédios, lojas , bancos . Prisioneiras dos seus sonhos. O sonho de comprar uma casa, comprar um carro, viajar e conhecer o mundo.
Passam a vida toda presa sem se quer notarem e olham para mim com pena mas na verdade eu que tenho pena delas . Minha vida não é tão boa mas tenho algo mais valioso do que elas :
A chance de apreciar o mundo passando por mim sem precisar sair do lugar.
Mas sou apenas um mendigo numa esquina qualquer.

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